[Conto] Eu não mudaria nada.

by - janeiro 19, 2015

Meu nome é Laura e eu vim contar para vocês algo muito especial que aconteceu na minha vida.
Desde pequena eu tenho um menino como melhor amigo, me lembro como se fosse ontem quando ele se mudou, eu tinha 7 anos e estava passeando de bicicleta com a minha mãe e então ela parou para cumprimentar a mãe dele.
‘Oi’. – Ele disse se aproximando de min.
Eu fiz uma cara feia por que estava naquela fase ‘meninos são chatos’ então ele riu e continuou.
‘Meu nome é Bruno, e o seu?’
‘Laura’. – Disse um pouco baixo.
‘Você mora nessa casa? Ela é bonita’. – Ele disse enquanto apontava para minha casa.

Concordei com a cabeça e logo depois minha mãe me chamou para irmos embora, me despedi um pouco tímida e a acompanhei, vi quando ele colocou um skate nos pés e saiu andando pela rua, achei legal aquilo por que nunca tinha visto um menino andar de skate antes, ainda mais por que ele parecia pequeno, era um pouco mais baixo que eu, mas de acordo com a minha mãe tinha a minha idade.
No dia seguinte ele apareceu na minha escola, exatamente na minha sala e foi apresentado como um aluno novo sentou-se ao meu lado e novamente com aquele sorriso do dia anterior me cumprimentou.
‘Oi Bruna!’ – Ele disse todo animado.
‘Oi’ – Eu respondi.
A professora pediu que eu o ajudasse com as tarefas de casa e com o conteúdo que ele tivesse dúvida, eu me senti muito importante nesse momento e então naquele dia mesmo eu levei meu caderno para a casa dele e comecei a bancar a professora particular, era como se estivéssemos brincando de escolinha.
‘Você é melhor do que a nossa professora’. – Ele disse e eu sorri convencida.
‘Eu sei, vou ser a melhor professora do mundo quando crescer’. – Ele riu.
Passamos juntos por todos os anos escolares, mas o Bruno não precisava mais de min ele era muito esperto, então começamos a compartilhar coisas diferentes como gostos musicais, filmes, eventos, ídolos, etc.
Na escola sempre estávamos juntos e fora dela bom... Quase sempre.
No dia do meu aniversário de 13 anos aconteceu uma coisa muito estranha, minhas amigas estavam cochichando de uma forma esquisita, ninguém queria brincar de pique com os meninos na rua, queriam apenas ficar falando de sobre eles.
‘Vocês vão mesmo ficar a noite toda aqui no quarto?’ – Minha mãe perguntou por que a festa rolava lá na sala, algumas crianças brincavam na rua, mas as minhas amigas queria apenas continuar trancadas no meu quarto o que eu estava achando realmente uma chatice só.
‘Já vamos descer’. – Eu disse com um sorriso. - ‘Vocês ouviram não é? Melhor descermos’.
‘Vamos, mas primeiro você tem que nos dizer quando você vai dar o seu primeiro beijo?’.
Arregalei os olhos e ri.
‘Que isso de primeiro beijo?’
‘Já está tudo esquematizado, já falamos até com ele’. – Outra amiga minha disse.
‘COM QUEM?!’ – Arregalei os olhos assustada, que papo de beijo era aquele? Com quem elas tinham falado sobre isso? Aaaaaaaaaaaaaah!
Fiquei desesperada e disse que era para todas descerem, que eu não queria saber nada sobre beijo, que eu ainda não pensava nessas coisas, que queria brincar de pique na rua e soprar minhas velas e que se elas continuassem com essa história de beijo eu ia ficar sem falar com elas.
Saí na frente e logo cheguei há rua, Bruno estava contando no pique esconde, então eu aproximei dele e bati em seu ombro:
‘Posso brincar?’ – Perguntei.
Ele fez que sim com a cabeça e então entrei na brincadeira, as meninas não disseram mais nada sobre beijo, mas se pensa que elas desistiram dessa ideia estão muito enganados.
Depois que soprei as velinhas elas me chamaram na varanda, quando cheguei lá não tinha ninguém além do Bruno, ele estava sentado no muro com o skate no colo me olhou um pouco envergonhado e eu não estava entendendo nada.
‘Onde estão as meninas?’ – Perguntei me aproximando dele.
Ele desceu do muro e me olhou.
‘Laura...’ – Ele disse, estava visivelmente envergonhado.
‘O que foi Bruno, que cara é essa?’ – Perguntei e logo depois dei um tapinha no ombro dele, ele então deixou o skate de lado e se aproximou mais.
‘Eu...’ – Ele disse;
‘Você o que?’ – Foi então que ouvi risinhos vindos de dentro da minha casa e entendi tudo, era um plano das meninas e com certeza ele fazia parte dele. – ‘Não acredito’. – Eu disse.
‘O que?’ – Ele perguntou.
‘Não acredito que você está fazendo isso comigo, você é meu melhor amigo, é o meu irmão e... Eca!’ – Eu disse e logo depois me arrependi de ter dito isso, ele se afastou de min pegou o skate e correu para sua casa.
Minhas amigas apareceram com aquelas caras de engraçadinhas, eu não disse nada, apenas me despedi e fui para o meu quarto, quando liguei meu celular tinha uma mensagem dele.
“Desculpe”.
Eu queria responder, mas não consegui e a partir daquele dia não nos falamos mais durante pelo uns cinco anos, sempre que a gente se esbarrava no corredor da escola eu percebia que ele ia dizer algo, mas travava, a mesma coisa acontecia comigo, calhou de não estudarmos mais na mesma turma.
Mesmo afastados nós dois fomos nos tornando populares em nossos próprios círculos, ele ficava mais bonito a cada ano e mesmo de longe eu percebia como era legal, amigo de todo mundo, popular, engraçado e talentoso, era o melhor no skate (pelo menos na nossa escola) e por isso todos os meninos e meninas queriam ser amigos deles.
Eu não fiquei muito atrás, devo admitir que era a melhor aluna da sala, sempre tive ar de liderança por isso fui escolhida para ser a representante de turma no ano da formatura, aceitei de bom grado, mas não imaginava a furada em que estava me metendo.
‘Você e o Bruno Fernandes, por favor, se reúnam para discutir sobre a formatura’. – Essas foram as palavras do nosso professor de Biologia o Marcos, ele estava nos orientando e como sempre foi o professor mais querido estava fazendo de tudo para nos ajudar.
Olhei para o Bruno de rabo de olho e ele estava imóvel, quando saímos fomos andando um do lado do outro sem falar nada.
‘Puxo ou não puxo assunto?’ – Pensei.
‘Podemos nos reunir hoje, eu não tenho nada para fazer’. – Ele disse, um pouco baixo.
‘Ah... Sim, claro. Na sua casa?’ – Perguntei.
‘Se não for longe demais para você’. – Ele disse e nós dois rimos juntos, combinamos de nos encontrar às duas horas na casa dele e não sei por que de repente eu queria estar mais bonita possível.
Fiz uma trança de lado no cabelo, vesti uma jardineira nova que eu amava e quando desci minha mãe perguntou:
‘Vai sair?’
‘Vou... – Respondi um pouco nervosa. – Ali na casa do bruno, fazer um trabalho’.
Ela riu e balançou a cabeça, aquilo me chateou profundamente.
‘Ta indo do que?’ – Perguntei com as mãos na cintura.
‘Nada... É que você está tão arrumada que eu pensei que iria ao centro’.
Dei de ombros e saí, sabia que tinha exagerado um pouco, mas não conseguia entender o porquê.
Cheguei há casa dele e assim que o vi alguma coisa se mexeu de forma estranha na minha barriga, eu nunca tinha sentido isso antes, assim que entrei fui com ele até a sala, tinha uma jarra de suco e biscoitos me esperando, sentei no sofá e então ele começou a falar.
‘Laura, antes de conversar sobre a formatura eu queria falar outra coisa com você’. – Ele esfregava uma mão na outra demonstrando que estava bem nervoso.
‘Eu também...’ – Admiti. –‘Sobre cinco anos atrás, eu fui tão burra de ter ignorado sua mensagem’.
‘Não, eu que fui burro em ter aceito o que suas amigas queriam que eu fizesse’.
Eu ri baixo e o olhei.
‘Éramos duas crianças não é?’.
‘Sim’. – Ele disse. – ‘Mas sabe por que eu aceitei?’
Neguei com a cabeça.
‘Por que eu queria que o meu primeiro beijo fosse com você’.
Arregalei os olhos e fiquei vermelha na hora, provavelmente ele notou por que ficou me olhando surpreso e disse:
‘Você ficou vermelha’. – Apontou pra min e riu.
Eu neguei com a cabeça e logo peguei um copo de suco para beber.
‘Laura...’ – Ele disse. – ‘Podemos ser amigos de novo?’
‘Com certeza’. – Eu disse.
A partir daquele dia voltamos a ser amigos, mas não sei o que dava em min, sempre que ia encontrar com ele eu usava minha melhor roupa e quando ele estava conversando com outras meninas eu ficava visivelmente chateada e foi em um dia de competição que eu percebi que aquela “chateação” na verdade eram ciúmes.
Ele tinha acabado de ganhar o prêmio pela competição de skate estadual, eu estava lá na plateia com as minhas amigas, uma delas até disse:
“Como você tem sorte de estar sempre com o Bruno Laura”.
Eu apenas ri e dei de ombros, fiquei observando enquanto ele descia do palanque e era cumprimentado por seus amigos de equipe, professores e parentes.
‘Vai lá cumprimentar ele’. – Uma das meninas disse.
Concordei e desci rapidamente os degraus da arquibancada, porém quando estava quase me aproximando dele uma menina loira muito bonita chegou na minha frente, ela o abraçou e deu um beijo, na boca!
Senti meu corpo queimar na hora, e assim que ele me viu eu saí correndo, não queria ficar ali e fazer papel da melhor amiga, já pensou se ele viesse me apresentar ela como namorada? Nossa! Seria pior ainda.
Enquanto eu corria para casa entendi tudo, aquela coisa na barriga, a vontade de me arrumar quando ia encontra-lo, ter ficado vermelha no primeiro dia em que voltamos a nos falar, todos esses eram sintomas... Sintomas que a gente sente, quando está apaixonado por alguém.
Entrei em casa feito um furacão, antes não tivesse feito isso, deitei na cama e pensei que ter saído correndo foi a pior coisa que eu poderia ter feito, agora ele provavelmente ia querer saber o que me deu, sentei nervosa e comecei a pensar.
-Posso dizer que estava com vontade de ir ao banheiro.
-Posso dizer que tinha esquecido algo em casa... Não não muito ruim essa.
-Posso dizer que minha mãe tinha me chamado... Sério?
Qualquer coisa que eu inventasse não seria uma desculpa plausível para eu ter saído correndo feito louca.
‘Laura o Bruno está aqui, muito preocupado com você por sinal’.
Era a voz da minha mãe me dizendo a última coisa que eu gostaria de ouvir naquele momento.
Levantei e respirei fundo.
‘O que você disse pra ele?’ – Perguntei.
‘Disse que você tinha chego em casa igual uma maluca desesperada, que subiu as escadas correndo e logo se fechou no quarto’.
‘Mããããããe!!! O que você...’
‘Laura?’ – Ele entrou no meu quarto, meio abusado não acham? E se eu estivesse pelada.
‘Ah... Oi, Bruno...’ – Eu disse nervosa.
‘Vou deixar vocês conversarem’. – Minha mãe disse, depois de com certeza perceber a caquinha que ela tinha feita, na verdade a caquinha maior tinha sido feita por min.
Assim que fechou a porta eu sentei na cama, na verdade eu queria ter um buraco para me enfiar naquele momento, mas como não tinha essa opção a única coisa descente a se fazer era assumir a verdade.
‘O que aconteceu? Você de repente saiu correndo...’
‘Ah é que... Sabe eu ia te dar os parabéns e tudo, mas de repente chegou aquela menina...’ – Mas o que eu estava dizendo? Fiquei louca só pode, por que assim que falei isso senti uma vontade enorme de desmaiar.
‘A Liza?’ – Ele perguntou.
Eu sei lá quem é Liza, queria dizer que pouco me importava o nome dela, o problema tinha sido o beijo que ela tinha dado nele na frente de todo mundo, mas a única coisa que eu consegui dizer foi:
‘É... Acho que sim, ela é sua namorada?’ – Perguntei.
‘Não’. – Ele riu, mas eu não estava vendo graça nenhuma naquilo tudo. – ‘Ela é abusada mesmo, mas eu não gosto dela, ela sabe disse. Assim que você saiu correndo eu dei o maior esporro nela e vim aqui te ver’.
Olhei pra ele e me dei conta que ele realmente estava ali, que não foi comemorar nem nada, que logo que eu saí correndo ele veio atrás de min.
‘Por que...?’ – Perguntei. – ‘Por que você veio atrás de min?’.
Ele riu baixo e disse:
‘Por que eu gosto de você Laura, eu sempre gostei de você. Quando te vi pela primeira vez seu jeito antipático de ser me conquistou e depois que nos tornamos amigos eu percebi como você era esperta. Quando nos afastamos eu fiquei muito triste, mas não tive coragem de falar com você, cada dia que passou você ficou mais linda e eu pensava ‘essa menina nunca vai querer nada comigo’ então continuei apenas observando, secretamente eu pedi ao Marcos que fizesse aquela cena falando que os representantes de turma teriam que se reunir, então aconteceu o que aconteceu e hoje estamos aqui. Quando vi você descer a arquibancada hoje desci rapidamente do palco e fui em sua direção, porém a Liza surgiu no nosso meio’.
Ele falava sem respirar e quando parou até colocou a mão no peito e riu.
‘Me desculpe... São muitas coisas’. – Me olhou. – ‘Muitas coisas que eu queria que você soubesse, além de minha melhor amiga Laura, você também foi o meu primeiro amor e eu gosto muito de como me sinto até hoje quando estou com você’.
Fiquei piscando, encarando-o um pouco assustada, ele fez a declaração mais linda, disse coisas além daquilo que eu esperava ouvir.
‘Não vai dizer nada?’. – Perguntou em meio a minha mudez.
‘Bruno...’ – Tomei coragem e comecei. – ‘Eu descobri que gosto muito de você também, mas é tão difícil colocar esses sentimentos em palavras’.
‘Não precisa colocar em palavras’. – Ele disse, se aproximou de min e me deu um beijo, um beijo doce carinhoso e intenso, um beijo que talvez tivesse demorado muito para acontecer mas que aconteceu no momento certo, quando nossos lábios se afastaram nos olhamos e rimos baixo, um riso gostoso, sem culpa, malícia ou medo, um riso até inocente.
‘E agora?’ – Ele perguntou. – ‘Você não vai sair correndo ou vai brigar comigo não é?’.
‘Não...’ – Eu disse.- ‘Agora, eu vou ficar ao seu lado, como melhor amiga e...’.
‘E...’ – Ele disse rindo.
Paralisei, eu não poderia dizer namorada poderia?
‘E...’ – Não sabia o que dizer.
‘E minha namorada?’ – Ele disse, logo me puxando para mais perto.
Dei de ombros e ri sem graça.
‘Ficou vermelha de novo’. – Bruno riu apontando para min, eu dei um tapa na mão dele e ele fingiu que doeu muito.
Conversamos a tarde toda no meu quarto e a noite na comemoração do prêmio ele me apresentou oficialmente como namorada.
A nossa história é tão comum, tantos casais se apaixonam dessa forma seja na vida real, filmes ou novelas, o diferente nela para min é o Bruno é claro, ele é a pessoa mais amorosa do mundo e até hoje eu fico pensando: será que se o meu primeiro beijo tivesse sido com ele as coisas seriam diferentes?

Se seriam eu agradeço imenso pelo meu gênio ser forte e a vontade de ser criança ter sido maior, porque mesmo tendo desperdiçado muito tempo ficando longe do Bruno eu não mudaria nossa história, em nada.

Autora: Marianna Angelo de Araújo

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2 comments

  1. Awwwwn que gracinha cara, adorei a historia, amei o casal, muito linda mesmo. Teria feito a mesma coisa que a Laura, bom que eles se assumiram <3

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  2. Nossa que fofos 😍😍amei o texto ainda bem que eles ficam juntos ,nem todas as historias tem esse final ,mas tiveram sorte 😍😍

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