[Conto] Eu não mudaria nada.
Meu nome é
Laura e eu vim contar para vocês algo muito especial que aconteceu na minha
vida.
Desde
pequena eu tenho um menino como melhor amigo, me lembro como se fosse ontem
quando ele se mudou, eu tinha 7 anos e estava passeando de bicicleta com a
minha mãe e então ela parou para cumprimentar a mãe dele.
‘Oi’. – Ele
disse se aproximando de min.
Eu fiz uma
cara feia por que estava naquela fase ‘meninos são chatos’ então ele riu e
continuou.
‘Meu nome é
Bruno, e o seu?’
‘Laura’. –
Disse um pouco baixo.
‘Você mora
nessa casa? Ela é bonita’. – Ele disse enquanto apontava para minha casa.
Concordei
com a cabeça e logo depois minha mãe me chamou para irmos embora, me despedi um
pouco tímida e a acompanhei, vi quando ele colocou um skate nos pés e saiu
andando pela rua, achei legal aquilo por que nunca tinha visto um menino andar
de skate antes, ainda mais por que ele parecia pequeno, era um pouco mais baixo
que eu, mas de acordo com a minha mãe tinha a minha idade.
No dia
seguinte ele apareceu na minha escola, exatamente na minha sala e foi apresentado
como um aluno novo sentou-se ao meu lado e novamente com aquele sorriso do dia
anterior me cumprimentou.
‘Oi Bruna!’
– Ele disse todo animado.
‘Oi’ – Eu
respondi.
A professora
pediu que eu o ajudasse com as tarefas de casa e com o conteúdo que ele tivesse
dúvida, eu me senti muito importante nesse momento e então naquele dia mesmo eu
levei meu caderno para a casa dele e comecei a bancar a professora particular,
era como se estivéssemos brincando de escolinha.
‘Você é
melhor do que a nossa professora’. – Ele disse e eu sorri convencida.
‘Eu sei, vou
ser a melhor professora do mundo quando crescer’. – Ele riu.
Passamos
juntos por todos os anos escolares, mas o Bruno não precisava mais de min ele
era muito esperto, então começamos a compartilhar coisas diferentes como gostos
musicais, filmes, eventos, ídolos, etc.
Na escola
sempre estávamos juntos e fora dela bom... Quase sempre.
No dia do
meu aniversário de 13 anos aconteceu uma coisa muito estranha, minhas amigas
estavam cochichando de uma forma esquisita, ninguém queria brincar de pique com
os meninos na rua, queriam apenas ficar falando de sobre eles.
‘Vocês vão
mesmo ficar a noite toda aqui no quarto?’ – Minha mãe perguntou por que a festa
rolava lá na sala, algumas crianças brincavam na rua, mas as minhas amigas
queria apenas continuar trancadas no meu quarto o que eu estava achando
realmente uma chatice só.
‘Já vamos
descer’. – Eu disse com um sorriso. - ‘Vocês ouviram não é? Melhor descermos’.
‘Vamos, mas
primeiro você tem que nos dizer quando você vai dar o seu primeiro beijo?’.
Arregalei os
olhos e ri.
‘Que isso de
primeiro beijo?’
‘Já está
tudo esquematizado, já falamos até com ele’. – Outra amiga minha disse.
‘COM QUEM?!’
– Arregalei os olhos assustada, que papo de beijo era aquele? Com quem elas
tinham falado sobre isso? Aaaaaaaaaaaaaah!
Fiquei
desesperada e disse que era para todas descerem, que eu não queria saber nada
sobre beijo, que eu ainda não pensava nessas coisas, que queria brincar de
pique na rua e soprar minhas velas e que se elas continuassem com essa história
de beijo eu ia ficar sem falar com elas.
Saí na
frente e logo cheguei há rua, Bruno estava contando no pique esconde, então eu
aproximei dele e bati em seu ombro:
‘Posso
brincar?’ – Perguntei.
Ele fez que
sim com a cabeça e então entrei na brincadeira, as meninas não disseram mais
nada sobre beijo, mas se pensa que elas desistiram dessa ideia estão muito
enganados.
Depois que
soprei as velinhas elas me chamaram na varanda, quando cheguei lá não tinha
ninguém além do Bruno, ele estava sentado no muro com o skate no colo me olhou
um pouco envergonhado e eu não estava entendendo nada.
‘Onde estão
as meninas?’ – Perguntei me aproximando dele.
Ele desceu
do muro e me olhou.
‘Laura...’ –
Ele disse, estava visivelmente envergonhado.
‘O que foi
Bruno, que cara é essa?’ – Perguntei e logo depois dei um tapinha no ombro
dele, ele então deixou o skate de lado e se aproximou mais.
‘Eu...’ –
Ele disse;
‘Você o
que?’ – Foi então que ouvi risinhos vindos de dentro da minha casa e entendi
tudo, era um plano das meninas e com certeza ele fazia parte dele. – ‘Não
acredito’. – Eu disse.
‘O que?’ –
Ele perguntou.
‘Não acredito
que você está fazendo isso comigo, você é meu melhor amigo, é o meu irmão e...
Eca!’ – Eu disse e logo depois me arrependi de ter dito isso, ele se afastou de
min pegou o skate e correu para sua casa.
Minhas
amigas apareceram com aquelas caras de engraçadinhas, eu não disse nada, apenas
me despedi e fui para o meu quarto, quando liguei meu celular tinha uma
mensagem dele.
“Desculpe”.
Eu queria
responder, mas não consegui e a partir daquele dia não nos falamos mais durante
pelo uns cinco anos, sempre que a gente se esbarrava no corredor da escola eu
percebia que ele ia dizer algo, mas travava, a mesma coisa acontecia comigo,
calhou de não estudarmos mais na mesma turma.
Mesmo
afastados nós dois fomos nos tornando populares em nossos próprios círculos,
ele ficava mais bonito a cada ano e mesmo de longe eu percebia como era legal,
amigo de todo mundo, popular, engraçado e talentoso, era o melhor no skate
(pelo menos na nossa escola) e por isso todos os meninos e meninas queriam ser
amigos deles.
Eu não
fiquei muito atrás, devo admitir que era a melhor aluna da sala, sempre tive ar
de liderança por isso fui escolhida para ser a representante de turma no ano da
formatura, aceitei de bom grado, mas não imaginava a furada em que estava me
metendo.
‘Você e o
Bruno Fernandes, por favor, se reúnam para discutir sobre a formatura’. – Essas
foram as palavras do nosso professor de Biologia o Marcos, ele estava nos
orientando e como sempre foi o professor mais querido estava fazendo de tudo
para nos ajudar.
Olhei para o
Bruno de rabo de olho e ele estava imóvel, quando saímos fomos andando um do
lado do outro sem falar nada.
‘Puxo ou não
puxo assunto?’ – Pensei.
‘Podemos nos
reunir hoje, eu não tenho nada para fazer’. – Ele disse, um pouco baixo.
‘Ah... Sim,
claro. Na sua casa?’ – Perguntei.
‘Se não for
longe demais para você’. – Ele disse e nós dois rimos juntos, combinamos de nos
encontrar às duas horas na casa dele e não sei por que de repente eu queria
estar mais bonita possível.
Fiz uma
trança de lado no cabelo, vesti uma jardineira nova que eu amava e quando desci
minha mãe perguntou:
‘Vai sair?’
‘Vou... –
Respondi um pouco nervosa. – Ali na casa do bruno, fazer um trabalho’.
Ela riu e
balançou a cabeça, aquilo me chateou profundamente.
‘Ta indo do
que?’ – Perguntei com as mãos na cintura.
‘Nada... É
que você está tão arrumada que eu pensei que iria ao centro’.
Dei de
ombros e saí, sabia que tinha exagerado um pouco, mas não conseguia entender o
porquê.
Cheguei há
casa dele e assim que o vi alguma coisa se mexeu de forma estranha na minha
barriga, eu nunca tinha sentido isso antes, assim que entrei fui com ele até a
sala, tinha uma jarra de suco e biscoitos me esperando, sentei no sofá e então
ele começou a falar.
‘Laura,
antes de conversar sobre a formatura eu queria falar outra coisa com você’. –
Ele esfregava uma mão na outra demonstrando que estava bem nervoso.
‘Eu
também...’ – Admiti. –‘Sobre cinco anos atrás, eu fui tão burra de ter ignorado
sua mensagem’.
‘Não, eu que
fui burro em ter aceito o que suas amigas queriam que eu fizesse’.
Eu ri baixo
e o olhei.
‘Éramos duas
crianças não é?’.
‘Sim’. – Ele
disse. – ‘Mas sabe por que eu aceitei?’
Neguei com a
cabeça.
‘Por que eu
queria que o meu primeiro beijo fosse com você’.
Arregalei os
olhos e fiquei vermelha na hora, provavelmente ele notou por que ficou me
olhando surpreso e disse:
‘Você ficou
vermelha’. – Apontou pra min e riu.
Eu neguei
com a cabeça e logo peguei um copo de suco para beber.
‘Laura...’ –
Ele disse. – ‘Podemos ser amigos de novo?’
‘Com certeza’.
– Eu disse.
A partir
daquele dia voltamos a ser amigos, mas não sei o que dava em min, sempre que ia
encontrar com ele eu usava minha melhor roupa e quando ele estava conversando
com outras meninas eu ficava visivelmente chateada e foi em um dia de
competição que eu percebi que aquela “chateação” na verdade eram ciúmes.
Ele tinha
acabado de ganhar o prêmio pela competição de skate estadual, eu estava lá na
plateia com as minhas amigas, uma delas até disse:
“Como você
tem sorte de estar sempre com o Bruno Laura”.
Eu apenas ri
e dei de ombros, fiquei observando enquanto ele descia do palanque e era
cumprimentado por seus amigos de equipe, professores e parentes.
‘Vai lá
cumprimentar ele’. – Uma das meninas disse.
Concordei e
desci rapidamente os degraus da arquibancada, porém quando estava quase me
aproximando dele uma menina loira muito bonita chegou na minha frente, ela o
abraçou e deu um beijo, na boca!
Senti meu
corpo queimar na hora, e assim que ele me viu eu saí correndo, não queria ficar
ali e fazer papel da melhor amiga, já pensou se ele viesse me apresentar ela
como namorada? Nossa! Seria pior ainda.
Enquanto eu
corria para casa entendi tudo, aquela coisa na barriga, a vontade de me arrumar
quando ia encontra-lo, ter ficado vermelha no primeiro dia em que voltamos a
nos falar, todos esses eram sintomas... Sintomas que a gente sente, quando está
apaixonado por alguém.
Entrei em
casa feito um furacão, antes não tivesse feito isso, deitei na cama e pensei
que ter saído correndo foi a pior coisa que eu poderia ter feito, agora ele
provavelmente ia querer saber o que me deu, sentei nervosa e comecei a pensar.
-Posso dizer
que estava com vontade de ir ao banheiro.
-Posso dizer
que tinha esquecido algo em casa... Não não muito ruim essa.
-Posso dizer
que minha mãe tinha me chamado... Sério?
Qualquer
coisa que eu inventasse não seria uma desculpa plausível para eu ter saído
correndo feito louca.
‘Laura o
Bruno está aqui, muito preocupado com você por sinal’.
Era a voz da
minha mãe me dizendo a última coisa que eu gostaria de ouvir naquele momento.
Levantei e
respirei fundo.
‘O que você
disse pra ele?’ – Perguntei.
‘Disse que
você tinha chego em casa igual uma maluca desesperada, que subiu as escadas
correndo e logo se fechou no quarto’.
‘Mããããããe!!!
O que você...’
‘Laura?’ –
Ele entrou no meu quarto, meio abusado não acham? E se eu estivesse pelada.
‘Ah... Oi,
Bruno...’ – Eu disse nervosa.
‘Vou deixar
vocês conversarem’. – Minha mãe disse, depois de com certeza perceber a
caquinha que ela tinha feita, na verdade a caquinha maior tinha sido feita por
min.
Assim que
fechou a porta eu sentei na cama, na verdade eu queria ter um buraco para me
enfiar naquele momento, mas como não tinha essa opção a única coisa descente a
se fazer era assumir a verdade.
‘O que
aconteceu? Você de repente saiu correndo...’
‘Ah é que...
Sabe eu ia te dar os parabéns e tudo, mas de repente chegou aquela menina...’ –
Mas o que eu estava dizendo? Fiquei louca só pode, por que assim que falei isso
senti uma vontade enorme de desmaiar.
‘A Liza?’ –
Ele perguntou.
Eu sei lá
quem é Liza, queria dizer que pouco me importava o nome dela, o problema tinha
sido o beijo que ela tinha dado nele na frente de todo mundo, mas a única coisa
que eu consegui dizer foi:
‘É... Acho
que sim, ela é sua namorada?’ – Perguntei.
‘Não’. – Ele
riu, mas eu não estava vendo graça nenhuma naquilo tudo. – ‘Ela é abusada
mesmo, mas eu não gosto dela, ela sabe disse. Assim que você saiu correndo eu
dei o maior esporro nela e vim aqui te ver’.
Olhei pra
ele e me dei conta que ele realmente estava ali, que não foi comemorar nem
nada, que logo que eu saí correndo ele veio atrás de min.
‘Por que...?’
– Perguntei. – ‘Por que você veio atrás de min?’.
Ele riu
baixo e disse:
‘Por que eu
gosto de você Laura, eu sempre gostei de você. Quando te vi pela primeira vez
seu jeito antipático de ser me conquistou e depois que nos tornamos amigos eu
percebi como você era esperta. Quando nos afastamos eu fiquei muito triste, mas
não tive coragem de falar com você, cada dia que passou você ficou mais linda e
eu pensava ‘essa menina nunca vai querer nada comigo’ então continuei apenas
observando, secretamente eu pedi ao Marcos que fizesse aquela cena falando que
os representantes de turma teriam que se reunir, então aconteceu o que
aconteceu e hoje estamos aqui. Quando vi você descer a arquibancada hoje desci
rapidamente do palco e fui em sua direção, porém a Liza surgiu no nosso meio’.
Ele falava
sem respirar e quando parou até colocou a mão no peito e riu.
‘Me
desculpe... São muitas coisas’. – Me olhou. – ‘Muitas coisas que eu queria que
você soubesse, além de minha melhor amiga Laura, você também foi o meu primeiro
amor e eu gosto muito de como me sinto até hoje quando estou com você’.
Fiquei
piscando, encarando-o um pouco assustada, ele fez a declaração mais linda,
disse coisas além daquilo que eu esperava ouvir.
‘Não vai
dizer nada?’. – Perguntou em meio a minha mudez.
‘Bruno...’ –
Tomei coragem e comecei. – ‘Eu descobri que gosto muito de você também, mas é tão
difícil colocar esses sentimentos em palavras’.
‘Não precisa
colocar em palavras’. – Ele disse, se aproximou de min e me deu um beijo, um
beijo doce carinhoso e intenso, um beijo que talvez tivesse demorado muito para
acontecer mas que aconteceu no momento certo, quando nossos lábios se afastaram
nos olhamos e rimos baixo, um riso gostoso, sem culpa, malícia ou medo, um riso
até inocente.
‘E agora?’ –
Ele perguntou. – ‘Você não vai sair correndo ou vai brigar comigo não é?’.
‘Não...’ –
Eu disse.- ‘Agora, eu vou ficar ao seu lado, como melhor amiga e...’.
‘E...’ – Ele
disse rindo.
Paralisei,
eu não poderia dizer namorada poderia?
‘E...’ – Não
sabia o que dizer.
‘E minha
namorada?’ – Ele disse, logo me puxando para mais perto.
Dei de
ombros e ri sem graça.
‘Ficou
vermelha de novo’. – Bruno riu apontando para min, eu dei um tapa na mão dele e
ele fingiu que doeu muito.
Conversamos
a tarde toda no meu quarto e a noite na comemoração do prêmio ele me apresentou
oficialmente como namorada.
A nossa história
é tão comum, tantos casais se apaixonam dessa forma seja na vida real, filmes
ou novelas, o diferente nela para min é o Bruno é claro, ele é a pessoa mais
amorosa do mundo e até hoje eu fico pensando: será que se o meu primeiro beijo
tivesse sido com ele as coisas seriam diferentes?
Se seriam eu
agradeço imenso pelo meu gênio ser forte e a vontade de ser criança ter sido
maior, porque mesmo tendo desperdiçado muito tempo ficando longe do Bruno eu não
mudaria nossa história, em nada.
Autora: Marianna Angelo de Araújo

2 comments
Awwwwn que gracinha cara, adorei a historia, amei o casal, muito linda mesmo. Teria feito a mesma coisa que a Laura, bom que eles se assumiram <3
ResponderExcluirNossa que fofos 😍😍amei o texto ainda bem que eles ficam juntos ,nem todas as historias tem esse final ,mas tiveram sorte 😍😍
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