[Conto] Three leaf clover.

by - janeiro 12, 2015




Final - O trevo de três folhas.


♣Atualmente

Thomas ~

Fui até o banheiro e terminei de lavar o meu rosto, estava muito nervoso. Peguei o carro da polícia e saí exatamente na hora em que tínhamos combinado, naquela praça tão deserta estavam uns dois caras que eu não conhecia, Peter que estava sendo preso por um deles e Lucas, o melhor amigo que eu já tive na vida.
Lucas mantinha sua pose de bandido marrento, a mesma pose que ele sempre teve tirando a parte do bandido é claro, eu estava ciente que deveria fazer uma encenação, me preparei muito para isso, pode acreditar que foi bem difícil.
Saí do carro pronto para começar quando ouvi o barulho de duas viaturas que chegaram e estacionaram ao meu lado, eram colegas meus, policiais que trabalhavam comigo, provavelmente me seguiram, um deles disse:
‘Querendo levar o crédito sozinho não é Thomas?’
Arregalei os olhos e olhei para o Lucas, ele estava tão assustado quanto eu, Peter também, os outros homens se olhavam com uma mistura de fúria, revolta e medo, diziam coisas como:

‘O que a polícia está fazendo aqui?’
‘Que droga é essa?’
Lucas olhou para min e eu devolvi o olhar, ele olhou para o Peter e o puxou para si.
‘Vai dar tudo certo’. – Foi o que ele disse ao Peter que apenas continuou assustado, mas concordou com a cabeça.
‘Com certeza mais um plano brilhante, ele sempre tem um...’ – Foi o que eu pensei, confiava plenamente no Lucas, mesmo com a distância e o tempo nos separando assim que o vi tive certeza que ele era o mesmo.
_Não irei machuca-lo se vocês largarem essas armas e colocarem elas no chão. – Ele disse.
_Largue-o imediatamente seu ladrãozinho imundo. – Um dos policiais disse.
Minha arma estava apontada para um dos companheiros do Lucas, eu estava com medo que eles atirassem no Peter ou em min, também não queria que meus companheiros policiais saíssem feridos dessa operação, mas eles pareciam realmente estar esperando ordens do Lucas.
Sabia como meus colegas eram impacientes e aquilo estava me deixando realmente preocupado. Diego era um dos policiais mais experientes e eu sabia que aquela coisa de enrolar com refém não era a dele, Lucas foi se aproximando devagar, confiou demais em nós, confiou demais... Se aproximou de min e então jogou o Peter em meus braços.
‘Vocês dois... Se cuidem’. – Foi o que ele disse, antes de levar um tiro certeiro nas costas, a bala havia sido disparada pelo Diego e nesse exato momento um dos companheiros do Lucas também atirou, mas meu outro colega fora mais rápido e o acertou em cheio, sua bala não atingiu ninguém... O terceiro saiu correndo.
O grito desesperador de Peter assim que vimos Lucas cair no chão pareceu ser ressoado por toda a cidade, segurei ele em meus braços, olhei para o Diego e perguntei:
_Porque?
_Depois que entregasse o menino eles iriam sequestrar outro, eles sempre fazem isso, dessa vez pegamos um grande, por que está preocupado policial? – Perguntou friamente enquanto ligava para uma ambulância ou viatura, queria acreditar que era a primeira opção.
_Esse homem... – Eu disse, não consegui terminar por que senti o Lucas segurando firme em meu casaco, olhei para ele. – A ambulância já está chegando.
Peter não parava de chorar, digitava desesperado algo em seu celular, com certeza estava pedindo ajuda, mas não havia mais tempo para isso...
_Peter... – Ele disse um pouco fraco.  –Pare de chorar se não irei bater em você.
_Lu...Lucas eles já vão vir, pedi socorro e...
_Shuuuu... – Lucas fez sinal de silêncio, meu colo já estava completamente encharcado de sangue. – Obrigado...
_Hey cala a boca! – Eu disse. – A ambulância já vai chegar então nada de despedidas.
_Thomas... – Ele olhou para min. – Me faz um favor.
_Para Lucas... – Eu disse, podia ouvir o Peter chorar mais ainda.
_Cuida da Milena e do Enzo para mim.
_Lucas... – Minhas lágrimas molharam seu rosto.
_Quero que seja o pai que eu gostaria de ter sido para ele, eu confio em você.
Apertei sua mão com força e ouvi sua voz pela última vez:
_Se cuidem... Não fiquem tristes por tanto tempo, nós sempre vamos ser um trevo de três folhas.
A ambulância chegou, tarde demais.
Lucas partiu desse mundo com um sorriso calmo nos lábios, ele tinha razão. Não importa o quão longe estivéssemos um do outro, nós sempre seriamos um trevo de três folhas.

♣1 mês depois

Demorou bastante tempo para que eu e o Peter encontrássemos a família do Lucas, corremos por todo o país, até a namorada dele ajudou a gente, ela era uma menina muito tagarela, mas era eficiente, aliás, foi ela quem encontrou o endereço, os dois estavam morando em uma cidadezinha pequena no interior da Itália.
Milena chorou muito quando contei a ela tudo que havia acontecido, nesse momento tive certeza que ela nunca deixou de amar o Lucas, a consolei com palavras, disse que ele partiu com um sorriso no rosto e ela falou que era típico dele, concordei; Lucas era o tipo de pessoa que preferia esconder a dor para não magoar os outros. Depois de uma conversa longa ela me disse que o Enzo estava nos fundos da casa soltando pipa, Peter e eu resolvemos ir conhecê-lo, deixamos a Gisele conversando com a Milena.
Quando saímos sentimos um vento gostoso passar por nós, o menino estava além dos fundos da casa, saímos pelo portãozinho que estava aberto e avistamos um grupo de cinco soltando pipa em meio a um gramado, reconhecemos ele imediatamente, agia como um líder parecia ser o mais esperto, era o mais sorridente e o mais veloz.
Peter tirou a câmera da bolsa e tirou uma foto dele com os colegas que corriam atrás de uma pipa vermelha.
_É como se ele estivesse aqui Thomas, não é? – Peter disse e me olhou em seguida.
Concordei com a cabeça e disse:
_É a nossa vez de protegê-lo Peter, é a nossa vez.
Nos olhamos, sabíamos que tínhamos uma missão a partir daquele dia, cuidar do filho do Lucas da mesma forma que ele cuidou da gente.

Pedi uma transferência e voltei para Londres, Peter começou a fotografar profissionalmente e está ganhando muito dinheiro com isso, ele e a Gisele estão noivos e acredito que vão se casar em breve.
A Milena que não tinha família na Itália concordou em vir com a gente para a Inglaterra, ela sabia que seria melhor para o Enzo.
É engraçado como a afinidade entre nós três aconteceu de forma imediata, acredito que foi coisa do destino como o Lucas costumava dizer.
O Lucas...
O melhor amigo que uma pessoa poderia ter.
A parte mais forte daquele trevo que nos perseguia.
Vai estar guardado para sempre, no meu coração e no coração do Peter, e quando a gente se encontrar novamente tenho certeza que vamos correr juntos, como naqueles dias da infância, onde a única coisa que importava era a bronca que levaríamos de nossas mães por chegarmos sujos em casa.

FIM




You May Also Like

1 comments