[Conto] Three leaf clover.
Final - O trevo de três folhas.
♣Atualmente
Thomas ~
Fui até o banheiro e terminei de lavar o meu
rosto, estava muito nervoso. Peguei o carro da polícia e saí exatamente na hora
em que tínhamos combinado, naquela praça tão deserta estavam uns dois caras que
eu não conhecia, Peter que estava sendo preso por um deles e Lucas, o melhor
amigo que eu já tive na vida.
Lucas mantinha sua pose de bandido marrento,
a mesma pose que ele sempre teve tirando a parte do bandido é claro, eu estava
ciente que deveria fazer uma encenação, me preparei muito para isso, pode
acreditar que foi bem difícil.
Saí do carro pronto para começar quando ouvi
o barulho de duas viaturas que chegaram e estacionaram ao meu lado, eram
colegas meus, policiais que trabalhavam comigo, provavelmente me seguiram, um
deles disse:
‘Querendo levar o crédito sozinho não é
Thomas?’
Arregalei os olhos e olhei para o Lucas, ele
estava tão assustado quanto eu, Peter também, os outros homens se olhavam com
uma mistura de fúria, revolta e medo, diziam coisas como:
‘O que a polícia está fazendo aqui?’
‘Que droga é essa?’
Lucas olhou para min e eu devolvi o olhar,
ele olhou para o Peter e o puxou para si.
‘Vai dar tudo certo’. – Foi o que ele disse
ao Peter que apenas continuou assustado, mas concordou com a cabeça.
‘Com certeza mais um
plano brilhante, ele sempre tem um...’ – Foi o que eu pensei, confiava
plenamente no Lucas, mesmo com a distância e o tempo nos separando assim que o
vi tive certeza que ele era o mesmo.
_Não irei machuca-lo
se vocês largarem essas armas e colocarem elas no chão. – Ele disse.
_Largue-o
imediatamente seu ladrãozinho imundo. – Um dos policiais disse.
Minha arma estava
apontada para um dos companheiros do Lucas, eu estava com medo que eles
atirassem no Peter ou em min, também não queria que meus companheiros policiais
saíssem feridos dessa operação, mas eles pareciam realmente estar esperando
ordens do Lucas.
Sabia como meus
colegas eram impacientes e aquilo estava me deixando realmente preocupado.
Diego era um dos policiais mais experientes e eu sabia que aquela coisa de enrolar
com refém não era a dele, Lucas foi se aproximando devagar, confiou demais em
nós, confiou demais... Se aproximou de min e então jogou o Peter em meus
braços.
‘Vocês dois... Se
cuidem’. – Foi o que ele disse, antes de levar um tiro certeiro nas costas, a
bala havia sido disparada pelo Diego e nesse exato momento um dos companheiros
do Lucas também atirou, mas meu outro colega fora mais rápido e o acertou em
cheio, sua bala não atingiu ninguém... O terceiro saiu correndo.
O grito desesperador
de Peter assim que vimos Lucas cair no chão pareceu ser ressoado por toda a
cidade, segurei ele em meus braços, olhei para o Diego e perguntei:
_Porque?
_Depois que
entregasse o menino eles iriam sequestrar outro, eles sempre fazem isso, dessa
vez pegamos um grande, por que está preocupado policial? – Perguntou friamente
enquanto ligava para uma ambulância ou viatura, queria acreditar que era a
primeira opção.
_Esse homem... – Eu
disse, não consegui terminar por que senti o Lucas segurando firme em meu
casaco, olhei para ele. – A ambulância já está chegando.
Peter não parava de chorar, digitava
desesperado algo em seu celular, com certeza estava pedindo ajuda, mas não
havia mais tempo para isso...
_Peter... – Ele disse um pouco
fraco. –Pare de chorar se não irei bater
em você.
_Lu...Lucas eles já vão vir, pedi
socorro e...
_Shuuuu... – Lucas fez sinal de
silêncio, meu colo já estava completamente encharcado de sangue. – Obrigado...
_Hey cala a boca! – Eu disse. – A
ambulância já vai chegar então nada de despedidas.
_Thomas... – Ele olhou para min. – Me
faz um favor.
_Para Lucas... – Eu disse, podia ouvir
o Peter chorar mais ainda.
_Cuida da Milena e do Enzo para mim.
_Lucas... – Minhas lágrimas molharam
seu rosto.
_Quero que seja o pai que eu gostaria
de ter sido para ele, eu confio em você.
Apertei sua mão com força e ouvi sua
voz pela última vez:
_Se cuidem... Não fiquem tristes por
tanto tempo, nós sempre vamos ser um trevo de três folhas.
A ambulância chegou,
tarde demais.
Lucas partiu desse
mundo com um sorriso calmo nos lábios, ele tinha razão. Não importa o quão
longe estivéssemos um do outro, nós sempre seriamos um trevo de três folhas.
♣1 mês depois
Demorou bastante tempo para que
eu e o Peter encontrássemos a família do Lucas, corremos por todo o país, até a
namorada dele ajudou a gente, ela era uma menina muito tagarela, mas era
eficiente, aliás, foi ela quem encontrou o endereço, os dois estavam morando em
uma cidadezinha pequena no interior da Itália.
Milena chorou muito quando contei
a ela tudo que havia acontecido, nesse momento tive certeza que ela nunca
deixou de amar o Lucas, a consolei com palavras, disse que ele partiu com um
sorriso no rosto e ela falou que era típico dele, concordei; Lucas era o tipo
de pessoa que preferia esconder a dor para não magoar os outros. Depois de uma
conversa longa ela me disse que o Enzo estava nos fundos da casa soltando pipa,
Peter e eu resolvemos ir conhecê-lo, deixamos a Gisele conversando com a
Milena.
Quando saímos sentimos um vento
gostoso passar por nós, o menino estava além dos fundos da casa, saímos pelo
portãozinho que estava aberto e avistamos um grupo de cinco soltando pipa em
meio a um gramado, reconhecemos ele imediatamente, agia como um líder parecia
ser o mais esperto, era o mais sorridente e o mais veloz.
Peter tirou a câmera da bolsa e
tirou uma foto dele com os colegas que corriam atrás de uma pipa vermelha.
_É como se ele estivesse aqui
Thomas, não é? – Peter disse e me olhou em seguida.
Concordei com a cabeça e disse:
_É a nossa vez de protegê-lo
Peter, é a nossa vez.
Nos olhamos, sabíamos que
tínhamos uma missão a partir daquele dia, cuidar do filho do Lucas da mesma
forma que ele cuidou da gente.
Pedi uma
transferência e voltei para Londres, Peter começou a fotografar
profissionalmente e está ganhando muito dinheiro com isso, ele e a Gisele estão
noivos e acredito que vão se casar em breve.
A Milena que não
tinha família na Itália concordou em vir com a gente para a Inglaterra, ela
sabia que seria melhor para o Enzo.
É engraçado como a
afinidade entre nós três aconteceu de forma imediata, acredito que foi coisa do
destino como o Lucas costumava dizer.
O Lucas...
O melhor amigo que
uma pessoa poderia ter.
A parte mais forte
daquele trevo que nos perseguia.
Vai estar guardado
para sempre, no meu coração e no coração do Peter, e quando a gente se
encontrar novamente tenho certeza que vamos correr juntos, como naqueles dias
da infância, onde a única coisa que importava era a bronca que levaríamos de
nossas mães por chegarmos sujos em casa.
FIM

1 comments
Geeente que lindo *-* Serio chorei, muito lindo, o melhor conto <3
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