[Conto] Three leaf clover.
P1 - O início.
♣Atualmente
Thomas ~
Aqui estou eu olhando através da janela do meu apartamento as ruas molhadas de Londres, a pouco a chuva terminou e o tempo agora estava realmente lindo, feito para correr pelas ruas ‘batendo um pique’ com os amigos eu sinto falta disso, sinto falta desses momentos da infância, momentos em que a única coisa que importava era a bronca que você iria levar da sua mãe por chegar em casa sujo, aqueles dias com certeza foram os melhores.
Naqueles dias Peter ainda era um
menino frágil e necessitava desesperadamente da nossa proteção, minha e do Lucas.
Naqueles dias eu e Lucas brigávamos por
qualquer coisa mas nos perdoávamos logo por que não dava para viver um sem o
outro.
Naqueles dias eu, Thomas Bell ainda
era um policial que usava uma arma de brinquedo.
Naqueles dias a única coisa que a
gente queria de verdade era se divertir.
As imagens continuam passando pela
minha cabeça, as lembranças e o coração dói, ao lembrar de tudo que aconteceu e
de como nossos caminhos foram separados.
♣12 anos
antes
Eu estava em casa assistindo meu desenho favorito quando ouvi a voz do meu melhor amigo me gritando desesperadamente, corri logo pra janela, me debrucei e perguntei:
_O que foi Lucas? Você não pode mesmo
resolver um problema sozinho não é?
_Não é isso. – Ele disse franzindo a
sombra celha – Não fique se achando, olha isso.
Ele colocou Peter para frente, o
pobrezinho que tinha 8 anos tremia feito vara verde e tinha os olhos vermelhos
encharcados de água. Eu imediatamente pulei a janela e perguntei ao mais novo:
_O que aconteceu Peter? – Perguntei preocupado.
_O ... os ... os ... os ... – Pedro
chorava e não conseguia responder de tanto que soluçava.
_Os meninos da turma do Joel bateram
nele de novo. – Lucas disse demonstrando claramente a raiva em seus olhos.
_Bateram? Mas porque Peter? – Perguntei
novamente a ele, mas o mais novo não conseguiu responder, estava nervosos
demais.
_Está certo Thomas, viu que não
adianta conversar com ele, o que adianta é agente ir lá e quebrar a cara
daquele trio metido a besta, quem eles pensam que são? – Lucas bufava enquanto
dizia isso.
_Lucas não podemos bater neles, eles
são três e nós somos dois. – Eu disse, sempre fui o mais racional.
_Sim, mas eu sou mais velho do que
aqueles amigos idiotas dele, acabo com aquele dois em um segundo.
_A e eu fico com o Joel? – Arregalei
meus olhos.
_Exatamente, vamos. - Lucas
me puxou pela camisa e lá fomos nós dois, o Peter se escondeu atrás de uma
parede enquanto acertávamos as contas com o metido do Joel e sua mini gangue,
eu ainda ouço o barulho de cada soco que o Lucas dava no rosto dos mais novos,
e aquela foi a primeira vez que eu briguei na rua, bom na verdade foi a
primeira vez que eu briguei, senti como se aquele dia fosse o responsável por
me tornar um homem de verdade, porque aquela foi a primeira vez que eu quis
fazer justiça e mesmo sendo contra qualquer tipo de violência daquela forma eu
senti como se estivesse ajudando uma pessoa que precisava muito de mim.
Peter precisou da nossa proteção
naquele momento, tínhamos que mostrar para os valentões que ele não estava
sozinho, ele era um menino muito frágil e precisava que eu brigasse por ele,
outro motivo para que eu criasse coragem naquele momento foi o fato do Lucas
estar ali comigo, ele era tão destemido e corajoso, gritava sem parar ‘isso
Thomas, bate mais, bate que ele merece, lembra o que ele fez com o nosso amigo?
Ele merece sim, bate mais e com vontade’, é por isso que até hoje eu sinto que
me tornei mais forte.
A nossa amizade crescia cada dia
mais, éramos como os membros do corpo que não podem se separar senão o corpo
não é perfeito, mas todo mundo dizia que nós três éramos como um simples trevo,
sabe um trevo aquela folhinha de três folhas, que se tiver quatro folhas dizem
que traz sorte, por isso os adultos diziam que nós éramos como um trevo, mas de
três folhas mesmo, deve ser porque agente aprontava demais, quer dizer o Lucas
aprontava demais eu e o Peter só levávamos a culpa junto com ele, mas agente nunca
se chateava porque era engraçado sair correndo do mercado com algumas goiabas
escondidas debaixo da blusa e depois ver a cara do Lucas dizendo pra mãe dele
que tinha trabalhado duro e comprado as frutas pra ela.
Ele sempre gostou de mentir.
Eu não o culpo ele vivia só com a
mãe e ela andava mesmo doente naqueles dias, mas o Lucas animava ela com suas
historias, historias que eu e o Peter adorávamos ouvir mesmo sabendo que eram
mentiras e como ele e a mãe eram muito pobres Lucas roubava mesmo, pra levar um
pouco de comida pra casa, Peter e eu tentávamos ajudar, mas ele sempre foi
orgulhoso demais.
“Eu nunca aceitaria nada assim de
vocês”.
Ele dizia, mas eu acho que ele teria
aceito, pelo menos algum dinheiro para remédios se soubesse que a mãe ia morrer
em pouco menos de dois anos. Já que de acordo com o pai do Peter a doença
poderia ter sido evitada.
O pai do Peter era médico, sim a
família dele tinha bastante dinheiro, mas Peter nunca foi um menino de se gabar
muito pelo contrario ele andava de um lado pro outro tirando fotos e mais fotos
de tudo que encontrava pela frente, ele amava aquilo, sem saber que ganharia
muito dinheiro com isso no futuro, mas como eu já disse Peter não ligava para o
dinheiro, nunca ligou. Ele dizia que trocaria todo dinheiro do mundo para ter
eu e o Lucas do lado dele pra sempre, “para te proteger, cagão” Lucas dizia
bagunçando o cabelo do nosso caçula ele ria e concordava, mas um dia ele me
contou, três anos mais tarde ele me contou que não era por causa disso.
♣10 anos
antes
26 de Julho e parecia que não ia
parar de chover nunca mais, eu não saia da janela da sala pensando no trevo ...
um trevo comum de três folhas quando se tira uma parte de uma folha é
impossível uni-la novamente, e deixar tudo como estava antes.
Tudo estava acontecendo, Julho não
estava sendo mesmo um bom mês, a duas semanas o Lucas tinha batido na casa do Peter
desesperado dizendo que a mãe estava passando muito mal e nesse mesmo dia o pai
do Peter disse para ele que ela estava morta, foi um choque. Eu percebi em seu
olhar que ele se sentiu a pessoa mais sozinha do mundo naquele momento e eu não
sabia o que podia fazer, então o abracei bem forte e disse que estava com ele
mesmo assim ele só reagiu duas semanas mais tarde.
Sabe, Lucas estava morando com a
minha família e eu estava amando a ideia de tê-lo como irmão, mesmo que ele não
estivesse falando muito naqueles dias eu sabia que ele ia se recupera todo
mundo se recupera um dia desse tipo de coisa, mas metade das coisas que eu
imaginei agente fazendo junto não aconteceu mais, porque no dia 25 as 10 horas
ligaram do conselho dizendo que os avós dele que moravam na Itália tinham
entrado em contato e ele deveria ser mandado pra lá imediatamente.
O choque foi tão grande para mim e
quando os meus pais contaram pra ele naquela mesma tarde eu percebi que não era
aquilo que ele queria, mas o que o Lucas queria ou não já nem importava a vontade
dele não iria ser feita, o conselho quase nunca se importa com a vontade da
criança ou do adolescente e eu estava no quarto com ele, quando o vi começar a
chorar.
_Deve ser por causa dos roubos
Thomas. - Ele disse de cabeça baixa enquanto colocava as roupas na mala, sua
voz não era a voz decidida de sempre era uma voz longe e triste, melancólica e
chorosa - Eu nunca fui muito bom para ela, e para vocês também não por isso
estão me tirando, essas coisas ... – ele parou de colocar a roupa na mala.
Eu estava encostado na porta e vi
quando ele sentou na cama e desabou de verdade. Nunca pensei que o veria chorar
desse jeito, nunca, aquela cena era uma cena que eu não gostaria de presenciar,
a pessoas que eu considerava a mais forte e corajosa do mundo desabava bem na
minha frente, no final as lágrimas vieram.
_Não chora assim Lucas. – Eu disse
tentando acalmar as coisas e me sentei ao lado dele. – Sabe, agente ainda vai
se ver de novo, a Itália não é muito longe.
Ele soltou um pequeno riso quando eu disse isso e enxugando as lagrimas se virou pra mim e disse:
Ele soltou um pequeno riso quando eu disse isso e enxugando as lagrimas se virou pra mim e disse:
_Não era para eu estar chorando
desse jeito, ainda mais na sua frente.
_Não, tudo bem você pode chorar a
vontade, nós somos amigos não é?
Ele balançou a cabeça positivamente.
_Então ... – Eu continuei, mas fui
interrompido por um forte abraço que eu recebi do Lucas, foi o abraço mais
caloroso e com mais sentimento que eu já tinha recebido, nem minha própria mãe
tivera me abraçado com tanta ternura antes, ele então disse a frase que mais me
marcou e que praticamente me transformou naquilo que eu sou hoje.
“Você trata de crescer Thomas e
lutar por aquilo que você acredita, porque um dia agente vai se encontrar de
novo e eu quero ficar contente em saber que você é um homem descente, com uma
família bonita e um emprego danado de bom, e esquece essa coisa de amigos está
certo? Nós não somos mais amigos a muito tempo, pelo menos pra mim nós somos
irmãos de verdade”.
Ele sorriu depois que disse isso,
até que ouvimos a voz do Peter nos gritando lá em baixo, fomos até a janela do
quarto e o pequeno estava lá com a câmera pendurada no pescoço, ele perguntou:
_Vamos tirar umas fotos juntos?
Tadinho, nem sabia que ia passar a
tarde toda chorando depois que agente contasse que o Lucas ia embora, e ele foi
...
Foi embora naquela tarde chuvosa do
dia 26; na estação de trem estávamos eu, mamãe, papai, uma moça do conselho,
Peter e o Lucas que segurava uma única mala com algumas peças de roupa e outros
bagulhos que a minha mãe tinha dado a ele.
Ela fez todas as recomendações do
mundo como se estivesse falando comigo. A mulher do Conselho só olhava
no relógio toda hora e repetia “esse trem não vai sair?”.
Peter várias vezes mostrou a língua
pra ela sem ela perceber, eu garanto que percebeu uma vez, mas achou melhor
disfarçar e fingir que não, essa gente fingida me da nos nervos.
Finalmente o trem apitou e de
imediato o Peter agarrou na cintura do Lucas chorando desesperadamente, “Não,
não vai por favor não vai.” ele repetia sem cessar, Lucas com certeza não
queria, mas estava sendo forçado do mesmo jeito que o Peter foi forçado a
soltar o abraço, para acalma-lo o mais velho disse: “Peter a gente vai se ver
de novo, mas se esforce, seja um bom menino e me deixe orgulhosos está certo?”
ele bagunçava o cabelo do pequeno e fazia força pra não chorar, Peter apenas
consentia com a cabeça, Lucas então se virou pra mim “Cuida dele.” ele disse, e
eu respondi “Com certeza e você se cuida”. Ele consentiu sorrindo e colocou na
minha mão um trevo em perfeito estado, ele me olhou e disse: “Nenhuma parte do
trevo vai ser arrancada Thomas.” e entrou no trem.
Ele acenava e eu podia sentir o que
ele disse, parecia mesmo que nenhuma parte do trevo tinha se partido ele ainda
estava ali e era melhor eu contar logo isso para o Peter, antes que ele
inundasse toda estação com suas lágrimas.
_Peter não chora, o Lucas ... agente
vai ver ele de novo, e eu estou aqui pra proteger você.
_Não é isso Thomas, não é a proteção.
– Ele disse.
_É o que então? – Eu parei na frente
dele perguntando.
_Vocês dois são os melhores amigos
da minha vida, é o que eu mais tenho de precioso vale mais do que todo ouro do
mundo e eu sempre imaginei nos três velhinhos como o meu avô e os amigos dele,
jogando dama na varanda lá de casa, e agora... – Mais choro.
_Vai acontecer. – Eu disse e ele me
olhou com aquele olhar de esperança. – Se agente tiver fé vamos vê-lo de novo,
o destino vai nos unir novamente.
E iria mesmo.
Dez anos mais tarde, mas não do
jeito que eu imaginei que iria ser, acho que é sempre assim né? Nada acontece
do jeito que a gente imagina que vai acontecer.
CONTINUA ...


1 comments
Já quero o resto! Muito bom o conto.
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