[Conto] Uma noite na praia.
Uma noite na praia
Eu estava sozinha na praia, coração partido, lágrimas
descendo sobre o rosto, estava frio, tão frio, o vento batia com força e meus
cabelos iam ao vento, o capuz não ficava no lugar então desisti dele; minha
solidão durou mais ou menos meia hora por que logo senti alguém tocar meu
ombro, juro que gritei bem alto e levantei num susto só.
_Hey! – Gritei.
_Calma. – Ele disse.
Era um menino, um pouco mais alto que eu, ele pareceu se
assustar com meu grito e eu continuei com medo, afinal ele poderia estar
drogado ou coisa parecida.
_Eu só fiquei preocupado, já está tarde e você é uma
garota. – Ele me mostrou a hora, estava mesmo tarde.
_Você vai me roubar? Olha a única coisa que eu tenho de
valor é o meu celular e...
_Claro que não. – Ele disse. – Eu só fiquei preocupado, por
que é perigoso...
Me acalmei, respirei fundo e disse:
_Eu estou bem, só estava pensando um pouco.
_Tem que fazer isso essa hora da noite?
Ele tinha razão, já passava das onze, estava bem escuro e a
praia estava deserta, de fato era perigoso mas eu não me importava, a única
coisa em que eu pensava é que partiram o meu coração, partiram ele várias vezes
e eu só queria esquecer aquela dor toda que estava sentindo.
_Isso é problema meu. – Eu disse.
_Então vou te deixar sozinha aqui. – Ele disse. – E se
alguém malvado de verdade aparecer não saia gritando feito uma louca.
Ele virou as costas, eu apenas cruzei os braços e fiquei
pensando por que aquele menino apareceu ali? Por que se importou comigo? As
pessoas ainda se preocupava com as outras no séc. XXI?
_Espera. – Chamei, ele parou e virou pra mim. – Por que
você estava sozinho essa hora na rua? – Perguntei.
_Fui na casa de um amigo e perdemos a hora. – Ele riu
baixo.
_Hm... – Olhei pra baixo e mordi o lábio, queria dizer que
estava grata por ele ter se preocupado, mas não queria dar por vencida.
_Onde você mora? – Ele perguntou enquanto colocava as mãos
nos bolsos.
_Por que quer saber? – Perguntei.
_Quero te deixar em casa. – Ele disse.
_Hm... eu estou de carro. – Apontei para meu carro, ele
olhou e riu.
_Quantos anos você tem?
_Vinte. – Respondi e ele riu de novo. – O que foi?
_É que eu tenho dezessete, mas não parece que você é mais
velha do que eu.
_Isso é bom de certa forma. – Eu disse e ele se aproximou.
_Então você vai passar a noite aqui? – Ele perguntou.
_Eu tenho um cobertor e comida, acho que vou sim. –
Respondi.
Ele concordou com a cabeça e sentou na areia.
_O que é isso? – Perguntei confusa.
_Se tem comida vou ficar com você.
_Mas não pode, você é menor de idade e...
_Eu já decidi. – Ele me interrompeu novamente. – Enquanto
você pega a comida eu ligo para minha mãe e invento alguma coisa, estou
acostumado.
Ri e neguei com a cabeça, mas topei, acho que aquela
sensação de uma nova experiência estava me fazendo esquecer a pessoa que
praticamente arrancou meu coração, fui no carro e peguei tudo que precisava,
quando cheguei ele estava desligando o celular.
Enquanto eu esticava um dos cobertores ele disse:
_Você veio preparada.
_Sim. – Eu ri baixo, sentei sobre o cobertor e coloquei o
outro por cima das pernas, o convidei para se aproximar e ele veio, sentou do
meu lado e começou a rir quando viu o que eu chamava de comida.
_Vinho e batata frita? – Ele questionou.
_Sim, o que tem de mal? – Olhei feio para ele.
_Nada, é que quando você disse comida eu imaginei um
X-burguer ou algo parecido.
_Não precisa comer se não quiser. – Eu disse, abri a
garrafa e dei um gole no vinho, ele abriu as batatas e começou a comer, me
perguntou por que eu estava ali, lhe avisei que a história era longa, mas
contei tudo por que ele insistiu.
Falei sobre meu ex namorado, que era para estarmos em um
acampamento nesse momento, mas eu descobri que ele estava me traindo, namorando
outra menina ao mesmo tempo que estava comigo e eu já tinha perdoado ele uma
vez no passado, comecei a chorar enquanto contava e senti ele me abraçando.
_Sabe o que cura esse tipo de ferida? – Ele perguntou.
_O que? – Perguntei.
_Vinho. – Sorriu ao dizer isso, colocou a garrafa na minha
boca e eu dei mais um golada, ele apertou meu nariz e eu ri.
Depois disso conversamos sobre tudo, ele me falou da
escola, dos amigos, coisas de adolescentes, mas também falou sobre futuro, o
que quer estudar, onde quer estudar e no que quer trabalhar, eu gostei da forma
dele de pensar, ele era divertido e realmente ficou comigo durante toda a
noite.
Quando acordei no dia seguinte ele ainda estava dormindo, o
Sol já tinha nascido e a praia estava muito linda, fiquei sentada pensando,
respirei fundo e aceitei o que tinha acontecido comigo, aquele noite
“diferente” me ajudou a ficar um pouco melhor.
_Sonhando acordada? – Ele perguntou.
_Você é louco sabia? – Disse o olhando.
_Por que?
_Passar a noite com uma pessoa que você não conhece.
_Então você também é louca.
_Ah, mas disso eu já sei. – Eu ri e dei de ombros.
_Está na hora de ir pra casa hm. – Ele disse.
_Sim. – Eu falei, arrumamos as coisas e fomos até meu
carro. – Nós... – Perguntei.
_Vamos nos ver de novo? – Ele completou.
Eu ri sem graça e disse:
_Você foi de grande ajuda hoje sabe.
_Eu fico feliz por isso e eu quero te ver de novo, se
quiser vir me ver surfar?
_Eu vou. – Sorri largo.
Trocamos contatos e eu entrei no carro, nos despedimos e
dei partida, assim que cheguei em casa todos ainda estavam dormindo, deitei na
cama e sorri para mim mesma ao me lembrar dos momentos tão divertidos que
passei a noite.
‘Esqueci de uma coisa, acho que a mais importante’. – Foi a
mensagem que ele me enviou.
‘O que é?’ – Respondi.
‘Seu nome, eu ainda não sei’.
Ri muito nessa hora, certamente éramos dois loucos.
‘Hikari’ – Respondi. – ‘Esse é o meu nome’.
‘Significa luz em Japonês não é?’
‘Sim, e o seu qual é?’
‘Mark!’
‘Que bonito J’
‘Se acha... vou dormir agora, mas a gente podia se
encontrar hoje, lá pelas quatro da tarde’.
‘Onde?’.
‘Na praia, afinal o mar foi a testemunha perfeita do nosso
primeiro encontro’.
Sorri e respondi.
‘Combinado’
‘ZZZZZZZZ’
Foi a última mensagem dele, eu ri e deitei para tirar um
soninho também, confesso que pensei nele a tarde toda, confesso que não me
arrependo de ter aceitado a companhia dele durante a noite, e aquela praia onde
tivemos nosso primeiro encontro presenciou diversos outros momentos perfeitos
que eu vivi e vivo ao lado do Mark até hoje.
Autora: Marianna Angelo de Araújo

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